Mesmo os mais desinteressados por motocicletas devem confessar: um dia já se detiveram – nem que tenha sido por um instante – para admirar as rebuscadas formas de uma superesportiva. Seja em modelos potentíssimos ou nem tanto assim, quando uma motocicleta se vale de uma carenagem integral, os projetistas sorriem, pois sabem que o desafio de “vestir” uma moto com uma carroceria os ajuda a alcançar um dos mais fortes elementos para determinar o sucesso de qualquer coisa. Qual? A beleza.
Moto feia não vende, ou melhor, vende menos do que as bonitas. É inegável que o componente estético acabe sendo um fator preponderante nas escolhas que todos nós fazemos em nossa existência, seja na seleção de nossas companhias, das frutas na feira, dos lugares onde vamos morar, passar férias e por aí vai.
Não são apenas as motos superesportivas que têm carenagens para cobrir suas entranhas. Há as gigantescas Grã-Turismo tipo Honda Gold Wing ou as BMW K 1600 GT, nas quais pouco se vê a parte mecânica, e há também os scooters, recobertos por superfícies mais ou menos elaboradas. E inclusive há motos dotadas de meia carenagem, tipo Suzuki Bandit 1200S ou Yamaha XJ-6F. Porém, hoje vamos nos fixar nos modelos aos quais cabe, sem dúvida, o cetro de campeãs do design, que atraem olhares como nenhuma moto de outro segmento sabe fazer: as superesportivas, os mísseis sobre duas rodas.
Kawasaki ZX-10R Ninja, Yamaha YZF-R1, Honda CBR 1000RR Fireblade, BMW S 1000RR, Suzuki GSX-R 1000, MV Agusta F4R, Ducati 1199 Panigale: essas são as mais destacadas rainhas do mercado mundial de superesportivas, seleto grupo que constitui o grande cartão de visitas tecnológico de seus fabricantes. Nesses modelos as empresas concentram todo seu know-how, buscando a excelência que, no fundo, escancara a ânsia de atender a uma estranha mas irrefutável faceta do ser humano: o gosto pelo absurdo, pelo excesso, pelo exagero.
Tais motos não são feitas para simples mortais, mas sim para superpilotos, gente capaz de domar os quase 200 cavalos de potência bruta concentrados em menos de 200 quilos, configurando a lendária relação peso-potência inferior a 1 quilo por cavalo. Insanidade? Sim, claro. Todavia, pode-se rodar com elas sem problemas já que a bondosa tecnologia tanto permite acelerar de 0 a 200 km/h em ritmo de avião de caça decolando de porta-aviões como passear tranquilamente a 20 km/h na avenida beira-mar. Você escolhe....
Para o que serve a carenagem? Mas e a carenagem? Serve só para deixar a moto bonitona e justificar o salário do departamento de design? Não mesmo. Os exemplos extremos – Yamaha R1, Fireblade, Ninja & cia. – têm um desenho que faz intuir a tarefa primordial, que é “furar“ a parede de ar. Mesmo esbanjando potência, essas máquinas exigem um elaborado perfil aerodinâmico para superar os 280 km/h e continuarem no solo, sem decolar.
Complexos estudos com modelos em escala reduzida ou real em túnel de vento são usados para definir formas ideais, como acontece em aviões, carros de competição e de alta performance. Todavia, nas motocicletas há um fator peculiar: o piloto faz parte do “desenho”, e a forma da carenagem deve considerar o corpo como parte do conjunto.
O sucesso nessa busca pela melhor penetração aerodinâmica – formas que facilitem usar melhor a potência para vencer o “muro” de ar – implicam não apenas velocidade maior, mas também em menor dispêndio energético (leia-se consumo de combustível) e, muito importante, conforto e segurança para o condutor.
Exageros à parte, no mundo inteiro está cada vez mais difícil encontrar lugares onde se possa viajar, dentro da lei, a velocidades acima dos 120 ou 130 km/h. Uma carenagem bem estudada pode oferecer características dinâmicas excelentes, baixo consumo e conforto impensáveis há alguns anos atrás.
Assim como existem anéis com diamantes do tamanho de uma bola de golfe (e há compradores para eles), assim como há insólitos hotéis com paredes de gelo com diárias de valores alucinantes (e hóspedes em lista de espera), as motocicletas superesportivas de mais de 300 km/h de velocidade máxima têm admiradores e compradores.
São eles que patrocinam a tecnologia que destes excessos espirra para modelos bem mais pé no chão, que podem habitar as garagens de mortais assalariados.
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Fonte: Auto Esporte |